Ô meu Bukowski.


Abandonei esses livros solitários, que você digitou com tanto ardor em suas máquinas de escrever, porque já não me identifico com as linhas dos seus poemas.
Suas linhas combinavam com o tamanho da solidão que habitava o lado da minha cama.
Hoje, pelo menos por hoje, o amor não é um cão dos diabos, mas sim a luz que eu nem imaginava existir.
Ainda cometo erros em poemas. Ainda escrevo torto por linhas tortas, porém agora sinto que achei. Achei?
Ô velho Buk.
Queria sentar em uma mesa de bar com você, velho vagabundo, e saber se na tua experiência de ruas e putas você já sentiu ter achado o que eu sinto ter achado.
Tomar um vinho barato e discutir, nas suas palavras simplificadas, o porque muitas das suas frases agora não fazem sentido para mim. Ou talvez eu só não queira que façam. De qualquer forma, não sinto mais que O Amor é Um Cão dos Diabos.
“Há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio”.
Ele disse que o tirei de sua solidão também. Será que diminuí o peso do relógio?
Eu sentia minhas mãos mortas, e meu coração morto, mas agora eles estão mexendo meus dedos nas teclas diariamente, tentando, desesperadamente, transformar ele em uma poesia, ou em um texto, ou em uma prosa… qualquer coisa para registrar seu eu em minhas palavras, cravá-los no eterno de todo poeta.
Hoje ele me acompanha com os seus cigarros e suas bebidas e seu cheiro e suas manias. Hoje deixei a solidão que você descreveu de lado e permiti que ele me guiasse pelos diferentes lugares que a gente não pode navegar sozinho.
Ô Buk,
espero que as palavras positivas que você já escreveu tenham feito sentido por muito tempo, porque só agora eu entendo suas metáforas amadas e meio amargas. Entendo porque agora eu sinto, e espero que você a tenha encontrado e deixado suas putas baratas de lado.
(Isabela Gomes)



Boa tarde, queridos!
 Eu tenho pelo menos 5 textos que estão salvos lindos e belos aqui no blog para publicação, mas esse tema em particular eu quero abordar há quase um ano e nunca consigo terminar, então lá vai:
 Há algum tempo atrás eu descobri os chamados "Slam Poetry" ou poesia falada.

O primeiro que eu vi foi um chamado OCD do Neil Hilborn - você provavelmente já viu no facebook ou no twitter porque circulou o mundo inteiro - e eu fiquei impressionada porque já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto ou parado para ouvir um desses poemas falados.

Eu fiquei apaixonada. A mistura do teatro, da realidade e das mensagens passadas durante as falas me deixou impressionada, ainda mais porque a habilidade de recitar coisas que as vezes são extremamente pessoais para pessoas que você nunca viu é algo que eu admiro.

Enfim... comecei a pesquisar e descobri outras maravilhas tanto americanas quanto brasileiras que eu preciso compartilhar com vocês. Apesar de ter passado a manhã inteira filtrando vídeos para que o post não ficasse grande eu não obtive muito sucesso.

1) The Future (Neil Hilborn)
 Como já o citei e ele é um dos meus favoritos, não posso deixar de começar com um poema do Neil. Nesse ele aborda seu transtorno bipolar. Diferente de OCD, Hilborn nesse slam fala muito sobre como até as coisas mais tristes podem te dar uma claridade para não desistir da vida e continuar, porque até a tristeza é algo bonito.




2) 21 (Patrick Roche)
 Nas minhas minerações pelo Buttom Poetry, que é um canal do youtube com vários artistas de Slam, encontrei esse do Patrick que me tocou muito. Em pequenas frases, ele consegue relatar os problemas que teve com a família por ser homossexual e como o seu pai, de seu herói, passou a ser um vilão por conta do álcool. Toda vez que vejo sinto exatamente o que ele quer passar e choro porque Roche consegue, com muita honestidade, passar seus 21 anos.



3) Slam Resistência com Mariana Félix
O "Slam Resistência" é um projeto muito interessante onde diversos artistas de rua da periferia, (eu não sei dizer com certeza se só ocorre no Rio de Janeiro ou se há também em São Paulo, mas vocês podem encontrar mais poemas no canal Sociedade dos Poetas Livres) fazem poesias sobre todos os tipos de assunto, mas principalmente em relação a desigualdade e a falta de respeito. Nesse poema, Mariana aborda de maneira muito divertida e ainda assim séria a cultura machista implantada nas músicas brasileiras desde sempre, principalmente no funk. É uma crítica social sensacional e bem inteligente.



4) Não desiste, negra, Não desiste! (Mel Duarte)
 Enquanto eu estava atrás de poesias brasileiras me deparei com o TedX da Mel, onde ela recita esse poema lindo. Antes, ela explica a história por trás da inspiração, então se vocês só quiserem ouvir o poema ele começa pelo terceiro minuto. Em algumas palavras ela incentiva as mulheres negras (e maravilhosas) a lembrar de suas raízes e a não desistir, apesar de o mundo ser difícil e calejado para elas.

5) How to Succed In a Heartbreak (Victoria Morgan)
 Esse é outro dos meus preferidos. Quando vi ele pela primeira vez tinha acabado de sair de uma relação e a Victoria me mostrou em alguns minutos que chorar pela pessoa errada não é estupidez e sim algo humano. Eu me identifiquei muito porque, assim como a autora, eu também sempre senti que as minhas emoções, por serem muito explosivas, sempre afastaram as pessoas, mas que não podemos nos martirizar por sentir demais, nem pedir desculpas por termos amado em excesso e principalmente que, independentemente de tudo, as coisas vão eventualmente dar certo.



6) Slam Resistência com Paulinha Turra
 O que eu mais gostei nos versos da Turra foi a linguagem simples, mas avassaladora, que ela usou para falar sobre as dificuldades de se assumir como lésbica e como alguém que gosta de se vestir de formas diferentes. Ela conta em poucos minutos seus 19 anos de história (onde ela diz só ter 3, por ter renascido assim que se assumiu). Vale mais que a pena ouvi-la vociferar.



7) Explaining Depression to My Mother (Sabrina Benaim)
 Esse poema se você não viu circulando - porque ele andou bastante pelas redes sociais - você certamente deveria. A Sabrina tem muitos outros poemas incríveis, mas nesse em particular ela coloca em palavras todas aquelas palavras que gostaríamos de dizer àqueles que amamos e não conseguimos - ou não podemos - por medo, ansiedade... depressão... É outro que toda vez que vejo sinto uma vontade compulsiva de chorar. É incrível como as suas metáforas pegam exatamente aqueles momentos ruins.



8) When Love Arrives (Phill Kaye e Sarah Kay)
 Eu amo os dois poetas e quando eles se juntam só saem coisas m a r a v i l h o s a s. Eu que sempre fui o clichê de romance repeti esse vídeo várias e várias vezes para que ele entrasse aos poucos na minha mente e para que eu entendesse que o amor é bonito, mas ele não é para sempre e que quando um vai embora, nós deveríamos sempre deixar a porta aberta.


9) When The Fat Girl Gets Skinny (Blythe Baird)
Infelizmente esse último está legendado em espanhol, mas quem não tem problemas com a língua deveria assistir porque ele fala sobre distúrbios alimentares. Ele me doeu particularmente por eu ter tido muitos problemas desse quesito e, assim como a Benaim falando sobre depressão, Blythe sabe exatamente como descrever a dor de precisar contar calorias a todos os segundos e se sentir feliz apenas quando você não come, por se sentir leve e 'magra'.



Por fim, mas não menos lindo, vou deixar vocês com um poema do Phil Kaye chamado "Repetition".



- Isabela Gomes


Você não cansa?
Não cansa dos problemas pequenos e, ainda assim, intermináveis?
Não cansa de promessas que você mesmo não vai cumprir? 
Eu me canso fácil dessas coisas mundanas...
São só 20 anos com decepções e nós já sabemos quem somos e como queremos viver.
Ainda assim me sinto com 10 anos, dividida entre brigas que não são minhas
Doída por coisas que não me deveriam doer...
Eu só queria chorar até minhas lágrimas alcançarem a quantidade de ml's suficientes 
para me afogar...
Preferia estar me afogando. 


Algo interessante para as pessoas que não sabem isso sobre a vida: ela é feita de ilusões.


 Não há um ser humano no mundo que não se iluda ao menos uma vez na vida. Ilusões são aqueles momentos que estamos vendo um filme, uma novela ou até um jogo de futebol e nos esquecemos quem somos, onde estamos e o que está acontecendo ao nosso redor. Quando mais precisamos sumir do mundo, aquelas pequenas coisas estão ali para te dar um pouco da paz que não lhe é concedida no cotidiano.
 Dito isso, posso começar a narrar uma pequena estória.
 O nome dele era Leres. O conheci em um desses pequenos bares no centro da cidade, nos comuns mesmo que vemos em todas as esquinas.
Em dias como aquele, depois de gritos e mais gritos no trabalho, o melhor a se fazer era tomar um wisky barato e rezar para ter uma dor de cabeça forte o suficiente para te desconcentrar dos seus problemas. Aquela noite Leres me salvou.
 Ele se sentou na minha mesa como se me conhecesse e foi pedindo doses de wisky para nós dois, porém sem falar comigo. Só pedindo.
 Engraçado como nossa cabeça é cheia de ideias estranhas. Comecei a analisar a postura do rapaz, o jeito que gesticulava, que pedia a bebida e até que acendia seu cigarro. Conclui que tinha uns trinta e poucos anos, era um pouco esnobe e não falava muito porque bem... ele ainda não tinha falado nada.
 Ele enfim pediu a conta e, assim que entregou o dinheiro virou para mim e disse:
- Olá, gostaria de andar comigo?
 Eu arqueei a sobrancelha e ri.
- Certo. Eu tenho spray de pimenta. Só avisando.
Ele abriu um sorriso de canto e levantou-se,me esperando. Tomei minha dose de wisky e fui com ele.
 Caminhamos algumas quadras sem falar absolutamente nada.
- Sabe porque está andando comigo?
- Não - falei, olhando para as estrelas.
- Porque está curiosa para saber quem eu sou.
O olhei com um arquear de sobrancelhas.
- Sim, eu sei que é óbvio. - falou ele, sorrindo - Hoje serei o que você quiser. Me fale de você.
 Apesar de considerar uma atitude estranha, comecei a falar o que eu gostava, as coisas que eu pensava e o que escrevia, o que já passei e todas essas baboseiras que não interessavam a ninguém, mas que por algum motivo parecia tudo bem compartilhar com aquele desconhecido.
 Tentei evitar falar onde eu moro, onde eu trabalho e afins, afinal de contas eu não fazia a mínima de com quem eu estava falando.
 Após algumas quadras eu parei de falar.
- E agora?
 Ele abriu outro sorriso e extendeu a mão.
- Prazer, sou Leres.
 Dei a mão para ele e sorri.
 Ele começou a falar de como achava as estrelas interessantes. Começou a contar historias de seu tempo de escola e de como adorava jogar futebol. Contou piadas e me fez rir e me mostrou fotografias que tinha em sua carteira.
 Leres contou que viajou uma vez para o Peru e deitou com uma mulher casada porque se não ele não teria o que comer. Depois disso ela deu uma semana de almoço e janta para ele, além de bebidas ilimitadas.
 Leres me contava coisas que eu nunca pensei que fosse ouvir de alguém. Ele parecia o homem perfeito e depois de contos quase infinitos ele me levou ao seu apartamento.
 Enquanto o anfitrião ia ao banheiro eu avaliei o lugar. As paredes eram azuis e tinha um pouco de tudo desenhado nelas. Era como se ele não soubesse do que gostar ou o que fazer, ou simplesmente que fazia tudo ao mesmo tempo. De cartões postais a instruções de como preparar um banquete adequado, as paredes gritavam informações das mais belas as mais pesadas.
 Aquela noite nos deitamos e, honestamente, posso dizer que muitas pessoas não irão presenciar um sentimento tão bom quanto a sensação os nossos se colarem e, logo após, a decadência pelo afastamento de sua respiração da minha nuca.
 Depois daquela noite fui para casa, deitei-me, liguei para o trabalho dando qualquer desculpa idiota e dormi o melhor sono de todos. Havia me esquecido de todo e qualquer problema que arranjei durante aquele mês inteiro.
 Passei o resto da semana tão ocupada com o trabalho que não tive tempo de fazer nada. Pensei nele algumas vezes, mas apesar da grande noite e conversas, não mantivemos contato.Quando finalmente tive um tempo, voltei no bar, mas ao chegar lá e perguntar de Leres o garçom não sabia de quem se tratava.
- Ele estava comigo da ultima vez que vim. Foi semana passada.
 O rapaz abriu um sorriso.
- Aquele é o que chamamos de 'vendedor de ilusões'. Ele vem aqui algumas vezes e parece uma partida de futebol. Faz a alegria da pessoa durante noventa minutos e some, sem acréscimos.
 E foi naquele dia e por causa daquele personagem que eu descobri o que significava ser iludido por alguém.
Ele se transformou em quem eu queria que ele fosse... E eu não vou mentir, gostei muito. As ilusões são coisas tão bonitas. Ele era apenas uma válvula de escape em forma de homem. Apesar de entender, fiquei intrigada.
Ao deitar-me na cama aquela noite comecei a pensar porque alguém conheceria tantas pessoas e viveria tantas vidas apenas como passagem. Me perguntei se um dia ele se apaixonou, quais eram os seus sonhos reais, quem realmente era a pessoa com quem eu estive...
 Queria vê-lo uma vez mais para tirar minhas dúvidas.
Após algumas noites em claro imaginando as motivações dele, comecei a pensar em quais benefícios uma vida assim poderia te trazer... Tentei olhar pelos olhos dele e conclui que era a válvula de escape perfeita. Se passar, todas as noites, por uma pessoa diferente. E todos os dias imaginava como ele se sentia sozinho... mas sei que a solidão de um vendedor de ilusões deve ser algo mais tranquilo que a minha. Ele todas as noites é o porto seguro de alguém, enquanto eu sou apenas o meu fundo do poço.


Olá, meu nome é Geovanna e eu sou uma das novas autoras do Maus Hábitos!
Hoje fiz uma resenha para vocês sobre um filme que assisti recentemente e queria compartilhar essa resenha, espero que gostem! O Filme baby driver, que foi traduzido para o português com o nome de “em ritmo de fuga”, começa com Baby - que é encenado pelo ator Ansel Elgort - sentado em um carro vermelho e ouvindo música no fone de ouvido.

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Sinopse: O jovem Baby (Ansel Elgort) tem uma mania curiosa: precisa ouvir músicas o tempo todo para silenciar o zumbido que perturba seus ouvidos desde um acidente na infância. Excelente motorista, ele é o piloto de fuga oficial dos assaltos de Doc (Kevin Spacey), mas não vê a hora de deixar o cargo, principalmente depois que se vê apaixonado pela garçonete Debora (Lily James)

Ele está usando óculos escuros se encontra aparentemente relaxado. Segundos depois dessa apresentação que temos de Baby entram três pessoas em cena: eles estavam em um assalto e Baby tem como função nesse trabalho correr! Baby é o motorista dessa fuga, que trás como som que te embala e te faz se fixar a música “bellbottoms”, que faz com que a trama fique curiosa e atraente. O personagem de Ansel tem um super plano de fuga e consegue fugir de policiais.


O filme te faz vidrar em Baby, porque além de Ansel ser um menino fisicamente atraente ele, é uma boa pessoa. Baby deve serviços a uma pessoa que se julga chefe dele e o ameaça caso ele não cumpra com seu trabalho. Rápido e habilidoso o protagonista é totalmente ligado em assunto da atualidade, tem como hobbie produzir músicas e sons tanto no teclado como no gravador.
Vindo de uma família conturbada, Baby viu seus pais morrerem em um acidente de carro. Ele tem uma grande herança artística de sua mãe que fez com que baby tivesse um caminho predestinado, criado com seu pai adotivo que é mudo ele cuida e diverte a todo o momento, demonstrando sempre várias preocupações pelo homem.
Baby também se apaixona por Débora (Lily James), mas acaba se envolvendo em problemas maiores, chantageado mais uma vez para um novo trabalho. Ele, que planejava fugir da cidade com Débora, não consegue ir ao encontro marcado, o que o leva a um novo assalto onde as coisas dão errado em mais uma cena de fuga. Quando tudo parece ficar bem Baby e Débora são pegos e ele se rende, indo ao tribunal onde é julgado e tem vários depoimentos a seu favor. Ele pega 5 anos de prisão onde ele a todo momento ajuda e mantém bom comportamento, Baby felizmente sai e tem sua vida feliz com Débora.
O que te faz se sentir uma identificação com o filme é o fato de que, apesar de ele ter uma ótima trilha sonora te faz lembrar de como é bom estar apaixonado, aquele sentimento de primeiro amor que te envolve e te faz também sentir vontade de fugir , sem se preocupar, apenas dirigir pela estrada em busca da liberdade e ouvindo um bom som.
O cuidado que ele tem com seu pai adotivo de deixa-lo em um lugar seguro antes de ir embora e o desejo de liberdade que todos nós temos em nossos corações mas muitas vezes temos medo de alcança-la . É um ótimo filme para quem deseja sonhar um pouco com uma fuga e viver um grande amor.

(por Geovanna Galvão)


                                               (Ephemeral Silhouette III by Moonassi)

*Ouvindo Life in A Glasshouse ( Radiohead)
 Sozinho ele podia ouvir os aplausos da platéia. Se imaginou no palco lendo seu roteiro de tristezas infinitas.
- Minha vida é feita de piadas doentias.
O público riu, mas ele estava falando a verdade.
 De repente, em sua cabeça, vozes começaram a afirmar a sua fala através de comentários negativos, notícias mortíferas e visões de ignorância em massa. Um telão desceu e ele pode ver tudo o que passava em sua cabeça, agora em alta definição e com um áudio claro, porque a tecnologia nos trouxe a possibilidade de martirização ao extremo, nem precisamos mais tanto da nossa imaginação para isso...
 Durante o filme de coisas ruins ele viu imagens de pessoas que amava, mas não conseguiu diferenciar mais quais eram memórias boas, difíceis e aquelas que eram só expectativa e fruto de sonhos e vontades distantes.
  Com o passar dos acontecimentos mais recentes ele se sentiu novamente preso aquilo que antes o segurava. Ao derramar a primeira lágrima o público ofegou em surpresa e, quando pararam, as imagens de choros compulsivos dele mesmo durante várias horas no dia o fizeram cair em prantos. Em imagens reais, estava ali todos os problemas que ele não conseguia explicar.
  As luzes se apagaram, um holofote azul negro iluminava agora um corpo sem vontades deitado, sozinho, em um palco gigante com toda a plateia ali. Por alguns minutos ele se virou e tentou olhar na escuridão o rosto dos que acompanhavam sua tragédia, mas não enxergou nada além do que parecia um infinito de tudo aquilo que ele sentia.
 - Atenção - anunciou o narrador - estamos indo agora para a fase do desespero.
 Entrou, então, uma moça rodeada de luzes amarelas. O público lembra dela por ter sido alguém recorrente nas memórias do rapaz.
 Ela, de vestido longo, senta ao lado dele e começa a acariciar seus cabelos.
- Você não deveria chorar. Outras pessoas sofrem tão mais...
 Um soluço saiu das profundezas do peito dele e o choro, que antes tinha voz, agora tornou-se silencioso e, por algum motivo, mais agoniante.
- Você não deveria se sentir mal. Não sabe que as coisas só chegam se você correr atrás? - perguntou ela com o tom delicado.
- Porque você está me ignorando? Não vê que eu estou magoada?
 Ele não estava ignorando. Só que seus membros de repente pareceram pesados demais para movimentar. A pressão então deitou ao seu lado e olhou nos olhos sem cor do que agora não era mais nada.
 - Estou decepcionada. Você me decepciona.
Ele sabia. Enquanto ela o olhava, ele pode ver todas as pessoas que já o decepcionaram ou que ele havia decepcionado. As vozes se repetiram em sua cabeça: "não faça isso", "você me magoa", "você só traz decepção", "isso não vai levar você a canto nenhum"... Antes que pudesse absolver tudo, uma luz verde trouxe um rapaz de olhos e cabelos negros ao palco, que debruçou-se no personagem e o agarrou com força.
- Atenção - repetiu o narrador - nosso personagem está morrendo lentamente. Vocês podem ver? A falta de brilho nos olhos e o choro incontrolável e nada reconfortante estão claros agora.
 Após o mestre da história falar, o menino de verde se pronunciou:
- Nós estamos sozinhos aqui. Você consegue enxergar alguém? - questionou ele, choramingando.
 Não, ele não via ninguém. Via seu reflexo na escuridão dos olhos de sentimentos que já não conseguia controlar. A solidão começou a chorar.
- Estou aqui com você, agora não precisa mais se preocupar - o sentimento disse, o apertando com tanta força que o rapaz começou a ficar sem ar.
  Agoniado com a pressão e a solidão, ele começou a se debater para sair daquele abraço sufocante... não conseguiu. O que lhe restou foi sentar-se, encarando o amarelo e deixando que o verde lhe apertasse. Tentou recuperar seu fôlego aos poucos, porém não era fácil. A cada tentativa seu cérebro o lembrava de todas as vezes em que esteve sozinho no meio de tantos. Ele jogou sua cabeça para cima e, de lá, desceu uma moça de olhos vermelhos e auréola negra. Ela não era um anjo, porém sentou graciosamente no colo do rapaz, o abraçou com força e escondeu seu rosto do pescoço dele.
- Eu tenho medo do escuro. - ela sussurrou em seu ouvido.
 Com a voz mais baixa, o narrador entrou com sua fala:
- Agora veremos o medo transformar tudo em um filme de terror. Ela é linda, não é? - perguntou ele, se referindo a moça de olhos flamejantes.
- Eu só queria que tudo isso acabasse. Você não? - perguntou ela, após o silêncio da narração.
 O rapaz começou, lentamente, a passar os braços ao redor do verde. Ele não queria abraçar o medo. A solidão, agora, até parecia um lugar reconfortante... mas a moça fez ele a encarar. Na auréola, ele viu todas as decisões que tomou injustamente, todas as vezes que ele ignorou vontades empáticas. Mostrou a ele seus amigos indo embora, mostrou a moça - que parece pressão - chorando sozinha no quarto. Viu, pasmo, todas as vezes que negou o rapaz que parecia a solidão, mesmo depois de tudo. Viu a pequena que agora parecia o medo pedindo desesperadamente para que ele não fosse embora. Viu sua morte e viu os seus pesadelos... As pessoas de sua vida agora não passavam de sentimentos ruins.
- Não vão sentir nossa falta. Ninguém vai se importar. - ela falou novamente, deixando que a pressão se aproximasse ainda mais. - Nada disso importa.
 Um grande holofote então se acendeu revelando uma mesa com uma faca, uma caneta e um papel. Lentamente, as emoções ajudaram o rapaz a se levantar e o carregaram com dificuldades. A pressão pegou a lâmina enquanto o medo usava a mão do personagem quase como a de um fantoche. Ela rabiscou alguma coisa e deixou o bilhete cair. A solidão, sempre companheira, segurou a mão do rapaz e fixou seus negros olhos nos daquele grande nada. A pressão pegou a outra mão e, juntamente com a mulher de olhos vermelhos, elas o usaram para cortar as veias do pulso de um moribundo.
 O narrador, calado há algum tempo, retornou para explicar:
- Vejam bem, nessa fase a única coisa que resta é a saída mais fácil. Agora eles irão sumir.
Instantaneamente o palco se apagou. Quando a luz voltou lentamente, havia apenas ele em frente a um espelho. A imagem refletida, no entanto, não era ele e sim seu ponto de vista de todas as histórias. Era a esperança que começou a derreter-se lentamente com o sangue que estava saindo dos pulsos dele.
As imagens apareciam. As risadas dela, as vezes que ele se contentou em ser feliz sozinho. As pequenas flores que ele pegava todo dia ao caminhar por achar a cor de um tom único; os sonhos e expectativas que ele, em momentos de paz, pensou em viver. Todas as coisas perdidas agora... O medo apareceu ao lado dele, mas nada fez, apenas assistiu enquanto o jovem colocava a mão na superfície refletora e era sugado, lentamente, por ela. Todas aquelas coisas agora pareciam ter mais significado.
 Quando ele sumiu no espelho, as luzes se apagaram.
Com a visão mais clara o público viu apenas o corpo de um ninguém no chão. Agora se podiam ver as paredes claras de uma casa cheia de memórias. Ouviu-se um telefone tocar... Ametista, a moça que antes parecia a pressão, entrou e começou a chorar.
Ela se ajoelhou ao lado dele, como antes tinha feito, e chorou a perda da pessoa que amava. Ela não entendia.
 Ao olhar para o lado enxergou o bilhete onde um pedido de desculpas manchado em lágrimas era mantido na eternidade sem deixar muitas explicações.



       

O amor não é algo racional.
 Nós éramos a mesma coisa, mas é interessante como nossa cabeça funciona: as decepções chegam e vamos, aos poucos, percebendo que o amor não é mais amor e sim obediência. É falta de reciprocidade. De repente achamos que o amor é só mais um sofrimento aqui e ali e que temos que aguentar, afinal, não é o amor que move o mundo?
 É, acho que algo estava errado.
 Eu comecei a me doer, você começou a sumir. Começamos a nos estranhar e a aguentar, porque nós éramos a mesma pessoa...
 Aí eu descobri que nós éramos a mesma coisa só na minha cabeça. Afinal de contas, sua opinião era a única que contava. Imagine então a minha surpresa quando eu descobri qual era a sua opinião...
 A questão é que nós não somos a mesma pessoa.
 Eu jamais iria aguentar calada o pouco caso ou abaixar a minha cabeça para alguém tão baixo quanto o próprio chão. Eu não iria voltar a dor por achar que nós éramos a mesma pessoa, pois eu não quero ser igual a você.
 Eu, depois de tantas quedas, sei o que é o amor. Eu sei que amo você... mas não era recíproco. E hoje eu sei porque já senti o gosto de sentir tudo sozinha. Você não sabe amar. 
 Hoje o meu amor me faz querer vomitar toda vez que ouço sua voz. Não consigo me lembrar de nada sem pensar em quantas mentiras você prometeu não contar e simplesmente não cumpriu o que disse. A sua risada me faz lembrar de todas as vezes que pensei não estar sozinha e me descobri enganada por uma ilusão que eu mesma criei. Porque achei que nós éramos a mesma pessoa.
 Descobri, com o passar da minha solidão, que até ela costuma ser mais parceira que pessoas com um coração de borracha. A solidão não mente para você...
 Talvez algum dia eu olhe para trás e pense em quão primitivo essas palavras são. Talvez eu bata na sua porta e te diga tudo o que quero, finalmente, pois sai da sua vida e te deixei no escuro. Não quero que você saiba o que eu sinto, mas eu preciso que você saiba que eu te amo tanto que cheguei a te odiar.